terça-feira, 5 de maio de 2009

E numa terça-feira cinza qualquer ....

Gislaine, sempre atordoada de trabalho, mil emails e trocentas ligações de todas as partes e sotaques, sem tempo para pensar de tão robotizada na sua rotina, atendendo as expectativas dos colegas de trabalho, ela se mantinha cada vez mais atenta e concentrada nos seus afazeres, chegando sempre ainda qdo os demais lugares ao seu lado ainda estavam vazios.Não se permitia reclamar da vida, acha um absurdo inaceitável pensar na possibilidade de estar infeliz no trabalho, afinal de contas trabalha num lindo prédio espelhado , numa multinacional de nome difícil, precisando sempre ser soletrado , ser uma funcionária de uma “Mutinacional” tem seu valor aumentado com direito a um lindo crachá pendurado no peito, com um trabalho burocrático, mas absolutamente exercível, um salário razoável que bancava incontáveis pares de deslumbrantes sapatos, que em sua maioria moravam em suas caixas por décadas, e certo no final do mês, dentista, médicos a rodo, bons almoços, ambiente saudável, cadeira reclinável confortável forrada em veludo azul e ainda FÉRIAS de 30 dias garantidas todo ano…

Gislaine se convenceu que existe normalidade em ficar 10 horas sentada em frente a uma tela gélida de um computador cheio de problemas, sim, porque os problemas existiam o tempo todo, e a principal função dela é resolver problemas que não foram criados por ela, mas que sempre que resolvidos, faziam Gislaine largar um sorrisinho cheio de sí.

Mas não nessa terça-feira cinza, nesse dia ela estava diferente, um certo inconformismo absorvia seu pensamentos enquanto os emails chegavam, ela até ignorou suas ligações, permitindo que elas fossem direto para correio de voz, se sentia diferente, sentia vontade de se soltar, o mundo começou a se abrir em tantas possibilidades, eram tantos os livros ainda não lidos, tantos os lugares para serem conhecidos,uma vontade de dançar, viagens ah…viagens, essas sim fazem a vida valer a penas, respirar novos ares, culturas, conhecer gente de todas as crenças, cores e formas ou simplesmente caminhar na praia com os pés descalços ouvindo sua música preferida…Como é bom ter essa vibração de liberdade, do novo, Gislaine nem por um minuto titubeou, soltou os cabelos, não colocou um pingo de maquiagem, tirou os saltos altos e cruzou as pernas ,escreveu emails lindos para amigos distantes, colocou no fone de ouvido músicas que faziam seu coração acelerar, visitou, virtualmente, vários países , museus, ilhas, céus azuis….

Como se sentia bem Gislaine, montando um novo plano de vida, eram tantas coisas a serem feitas, sonhos a serem realizados, saudades matadas, sabores experimentados…

A manhã inteira passou nesse devaneio feliz de tantas descobertas com direito a seqüências de suspiros constantes.

Terça-feira longa, nesse dia Gislaine fez hora extra.

Carol Pimentel 02/04/09

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